Levanto abaixo alguns pontos que acho que deveriam ficar no radar durante esse ano, além de pincelar algumas projeções econômicas pelo caminho:
- O crescimento médio do governo Dilma é de aproximadamente 2% ao ano, divergindo dos 4% verificados no governo anterior. Portanto, parece que houve efetivamente uma mudança de patamar estrutural da economia. Assim, achar que a economia vai saltar de repente para um crescimento muito acima dos 2,5% parece pouco provável;
- O cenário externo pode mudar rapidamente ao sabor da recuperação americana e europeia. Qualquer aumento no nível de atividade dessas economias demandará uma resposta rápida dos respectivos bancos centrais, podendo gerar efeitos complicadores ao Brasil em termos inflacionários, pois uma diminuição do diferencial de juros poderia pressionar o câmbio no sentido da desvalorização do Real, gerando pressão nos preços dos produtos importados e na já elevada taxa de inflação brasileira.
- Preocupações relativas à política fiscal devem chamar a atenção dos analistas nesse ano mais do que no ano passado. Aparentemente, o governo esqueceu que estamos somente no primeiro degrau do chamado “grau de investimento” e que já nos presentearam em junho do ano passado com um viés negativo (Standard & Poor’s). Assim, dada a possibilidade de rebaixamento - que seria algo catastrófico em termos eleitorais e econômicos-, é pouco provável que o governo faça grandes gastanças fiscais nesse ano, apesar de ser um ano eleitoral. Segundo cálculos simples feitos pelo IBRE-FGV[1], o superávit primário que estabiliza a dívida pública é de 2,2% ao ano, um pouco acima dos 2,1% do cenário do BC[2].
- O mercado prevê uma inflação para 2014 de aproximadamente 6%, muito próxima do teto da meta. O Banco Central já surpreendeu o mercado ao elevar em janeiro a taxa básica de juros da economia para 10,50% e, pela Ata do Copom, esta será novamente elevada mais uma vez. Desta forma, e ao contrário do estava sendo previsto, acordamos em 2014 com um BC mais responsável e com a clara intenção de recuperar a credibilidade perdida na gestão atual;
- Também relacionado à inflação, não podemos esquecer que estamos diante de grandes defasagens das tarifas públicas e do preço da gasolina, que, se reajustados, podem ser agentes aceleradores da inflação em 2014;
- As contas externas ainda não preocupam, dado o elevado nível de reservas internacionais. Porém, a luz amarela já acendeu. Não podemos manter déficits em transações correntes de 3,5% do PIB por muito tempo. Algum ajuste terá que ocorrer e, provavelmente, será consequência automática da desvalorização do real. Porém, é pouco provável que qualquer ajuste cambial ocorra antes das eleições, pois uma desvalorização do real diminuiria a renda real das pessoas, ocasionando perda de votos. Assim, ainda conviveremos com intervenções no câmbio em 2014, caso sejam necessárias.
O governo terá um ano cheio, não só por causa das eleições, mas porque a economia está pedindo um novo modelo de crescimento. Claramente, como já apontou a revista The Economist em diversos momentos, o modelo atual não está dando certo e é essencial que isso seja revertido o mais rapidamente possível. Talvez seja essa a real razão da mudança ministerial proposta pela presidente e que será divulgada em breve. Vamos torcer para que essa reforma seja o início de uma mudança na condução econômica do país e que seja a faísca para que voltemos a olhar para a economia brasileira com a confiança de que estamos no caminho certo. E que venha a Copa!
Oscar Simões é doutorando em
economia de empresas pela Escola de Economia de São Paulo, da FGV e professor
de economia e finanças do ISE BUSINESS SCHOOL.