Presidentes da Hypermarcas e da OrbiSat falam sobre o que esperam do RH de suas empresas
Em pouco mais de 30 anos de carreira, Maurício Aveiro já
passou por situações delicadas, como a integração de um time de vários profissionais
com diversas nacionalidades e culturas diferentes, demissões em massa, ou mesmo
a busca de um líder que pudesse sucedê-lo na organização em que trabalhava. “Em
todas as etapas da minha vida profissional, me deparei com grandes desafios e
os mais complexos, sem dúvida, eram os relacionados aos recursos humanos”,
afirma o executivo hoje à frente da OrbiSat, fabricante de equipamentos de
sensoriamento remoto e de radares de vigilância. “Para mim, RH não é apoio, nem
staff. É parte essencial do negócio. O profissional à frente dessa área tem que
saber quais são os próximos lançamentos da companhia; quais são as metas de
venda, qual é o plano de marketing”, acrescenta Nicolas Fischer, presidente da
divisão de consumo da Hypermarcas. Os dois CEOs participaram na semana passada
do painel executivo do curso de curta duração do ISE Business School, “RH
Estratégico – a Direção de Recursos Humanos Voltada para o Negócio.
Hoje, disse Aveiro, a companhia que preside está em um
novo patamar, e os desafios da área de RH só aumentam a cada dia. “Estamos
dobrando de tamanho a cada dois anos e é o RH quem vai nos dizer como suprir
essa nova demanda por mão de obra”, disse ele acrescentando que cabe ao RH minimizar
os riscos das escolhas desses novos profissionais. “É uma responsabilidade
enorme porque demanda tempo na seleção, tempo de treinamento e tempo de
adaptação. E pode ser que, ao final desse longo processo, a empresa ou o
colaborador selecionado, não se adaptem um ao outro.”
Planejamento
de longo prazo
Já o presidente da divisão de consumo da Hypermarcas
perguntou a uma plateia atenta porque ninguém se espanta quando se pergunta
pelo planejamento de longo prazo de um departamento de vendas, ou de marketing.
“Mas as pessoas fazem ar de espanto quando pergunto qual é o planejamento do RH
para os próximos cinco anos da companhia”. Se a meta da empresa é o
crescimento, e sempre é, nada mais natural do que pensar em quantas pessoas, e
com qual perfil, serão necessárias quando a empresa alcançar o patamar estipulado.
Em outras palavras, exatamente a situação pela qual passa a companhia de
Maurício Aveiro. “Missão todas as empresas têm – e têm que ter. Mas o que
precisamos é de versatilidade e pragmatismo”, disse Fischer.
Os palestrantes também lembraram os aspectos pessoais dos
funcionários que compõem uma organização empresarial. “O tempo inteiro as
pessoas e as empresas estão em processo de mudança e em busca de crescimento. A
empresa espera que seu colaborador se comprometa com essa meta, ao passo que o
funcionário espera que a companhia seja sensível ao equilíbrio pessoal –
composto por trabalho, família, amigos, seu papel de cidadão e, porque não
dizer, suas crenças religiosas”. E Aveiro não escapou quando os alunos quiseram
saber como ele próprio, sendo CEO de uma grande empresa, mantém a vida pessoal
equilibrada com as demandas profissionais. “Na empresa, temos um plano de ação
por meio do qual você se compromete a alcançar determinadas metas. É um plano
individual. Pois eu levei o PA para minha vida pessoal. Uma das minhas metas,
por exemplo, é jantar com a família todas as noites. Algumas metas são negociáveis,
outras não, e eu tenho tentado cumprir as que assumi com a família”.
Responsabilidade
e Riscos
Nicolas Fischer abordou
ainda alguns temas que segundo ele, pela cultura brasileira, são considerados
delicados: “Brasileiro nunca diz não. É uma característica”, afirmou o
executivo acrescentando que não haveria problemas se, dentro de uma
organização, esse traço que nos é particular, não causasse frustrações em
expectativas alimentadas durante anos. “Ninguém tem coragem de dizer que aquele
funcionário não tem potencial para ser gerente ou para ser diretor. E essa
falta de direcionamento faz com que se perca tempo, dos dois lados”. Para o
executivo, que por mais de uma década comandou a Beiersdorf – dona da marca
Nivea – planejamento de carreira e transparência na comunicação com as pessoas,
podem fazer a diferença entre o sucesso e o fracasso de uma organização.