Professor do ISE Business School
Diretor Acadêmico do EMBA-Brasil/IESE-ISE
Consultor de Empresas
Sempre quando falo que passei a maior parte da minha vida escolar, com exceção talvez dos primeiros anos e de dois ou três professores que me chamaram a atenção na universidade, com a cabeça completamente longe do que os professores estavam falando, pois sempre me pareceu mais fácil aprender sozinho do que com uma metodologia expositiva, as pessoas se surpreendem ao saberem que sou professor de tempo integral em uma escola de negócios.
Embora sempre senti inclinação pessoal para seguir estudando e por isso iniciei um mestrado logo depois de acabar a graduação e pensava também em avançar com o doutorado, a última coisa que passava pela minha cabeça era me tornar professor, eu queria mesmo era trabalhar em empresas que tivessem demanda por conhecimento mais especializado e por isso lhes interessaria esse doutorado, ou então desenvolver mais minha empresa de consultoria que criara ao terminar o mestrado. Porém isto mudou bastante a partir de um acontecimento inusitado.
Um amigo, ex-aluno da mesma universidade onde eu fiz o mestrado, veio conversar comigo sobre o desafio da educação executiva, e como ela somente era possível, pelo menos na opinião dele e da escola que representava, através de um método participativo e fruto de vivências práticas do instrutor e dos próprios alunos: o método do caso. Devo dizer que depois de assistir a algumas aulas, foi amor à primeira vista.
A partir desta experiência, decidi iniciar o doutorado no IESE Business School, escola líder em educação executiva, primeiro lugar no ranking de 2012 de acordo com o prestigioso jornal Finantial Times, e que para minha surpresa estava no Brasil operando junto com uma Escola de Negócios brasileira ainda pequena mas já de primeiríssima qualidade chamada ISE Business School. Ambas oferecem, em conjunto, aulas para executivos baseadas no método do caso, um interessante modelo de aprendizado focado em adultos que já tenham experiência em suas áreas de atuação e querem estar melhor preparados para novos desafios.
Alguém deve estar se perguntando o que é o método do caso e por que ele se encaixa tão bem na formação de executivos. Tudo se inicia com um momento da empresa onde uma decisão importante teve de ser tomada, e a partir daí um texto é escrito descrevendo o mais próximo possível as informações disponíveis neste momento para as pessoas que tinham de tomar a decisão, nem mais nem menos. Pois bem, este documento é o que chamamos de um caso, e que no futuro virá a ser trabalhado pelos alunos.
O método do caso consiste em trabalhar o caso descrito acima em três etapas: estudo individual, estudo em equipe e discussão em plenária. Na primeira etapa o aluno estudo o caso individualmente e começa a desenvolver suas próprias conclusões sobre a decisão a ser tomada. Na segunda, além de defender seu ponto de vista diante do grupo, também o ouve procurando enriquecer a sua própria solução. Na terceira etapa, que ocorre em uma sala de aula preparada para estas discussões, o professor utiliza o método socrático de fazer perguntas centrais para o problema, buscando que cada aluno perceba os pontos fortes e fracos da sua proposta. Os participantes são estimulados a se posicionarem diante da decisão, procurando defender seu ponto de vista diante de todos. Depois dos professores terem trabalhado alguns casos, usa-se normalmente uma conferência para colocar tudo o que foi sendo discutido em perspectiva e consolidar o conhecimento desenvolvido.
E de onde vem a eficácia deste método em comparação com o método tradicional? Antes de responder a esta pergunta é preciso entender qual o método tradicional e em que situação ele funciona, e assim diferenciar as circunstâncias onde cada método ensina melhor. O método tradicional de ensino é basicamente expositivo, isto é, o professor expõe o conteúdo do assunto ao aluno, procurando facilitar o aprendizado mediante explicação minuciosa dos temas de mais difícil aprendizado de acordo com a experiência do professor e a maneira como os alunos vão reagindo a estas explicações, tanto nas respostas dadas em sala quanto nas soluções propostas de exercícios que servem para ir confirmando o aluno no aprendizado.
Reparem que este método parte de alguns pressupostos que garantem sua eficácia, como por exemplo: o conteúdo deve ser bem definido e o conhecimento bem delimitado e com uma estruturação lógica mais direta. Por exemplo, quando uma criança está aprendendo a ler ela precisa conhecer os 31 fonemas da língua portuguesa e suas 26 letras, e o método expositivo é não somente o melhor, mas o único possível. O mesmo ocorre com o ensino de matemática onde embora possam haver muitas deduções possíveis para se chegar ao resultado, este sempre será o mesmo. O método tradicional requer um esforço do educador em tornar o objeto de ensino interessante – isto é, estimular o interesso do aluno – uma vez que todo aprendizado no fundo passa pela atenção individual de cada um. Reparem que boa parte do ensino formal – até o fim da universidade – é em sua maioria feito pelo método tradicional.
Depois que começamos nossa carreira profissional inicialmente vamos aplicar estes conhecimentos técnicos e outros que seguimos aprendendo, mas pouco a pouco, conforme vamos subindo no nível hierárquico da empresa, vamos lidando cada vez mais com decisões menos estruturadas, com soluções não uniformes, que precisam de conhecimentos muito variados, de muito critério e também de criatividade, pois resolver estas questões é a essência do trabalho do líder. Então vem a pergunta, como se aprende isto? Ou seja, o que é a educação executiva?
A educação executiva, pelo menos na maneira como é feita no ISE Business School – e no IESE –, visa formar líderes preparados para assumir cargos de direção geral. Esta formação requer basicamente a tomada de decisão em problemas não estruturados, sem conhecimento de todas as variáveis que o influenciam, e sem uma solução única. Portanto todas as condições requeridas pelo método tradicional falham porque o gestor precisa tomar uma decisão dita prudencial.
Para desenvolver-se na tomada de decisões prudenciais os executivos precisam enriquecer sua base de experiências vivenciais, e ao mesmo tempo ser treinados em um método estrutural de tomada de decisão nestas circunstâncias. E é exatamente isto o que faz o método do caso: o aluno passa por inúmeras sessões onde cada vez ele tem de tomar uma decisão enfrentada por outros executivos na vida real, e procura formar sua opinião estudando individualmente o assunto, e depois ouvindo outros colegas na mesma situação.
Uma decisão prudencial será tanto mais rica quanto mais rica for a vivência do tomador da decisão, e quanto mais desenvolvida nele estiverem algumas virtudes essenciais como aprender a ouvir, ter humildade de reconhecer as fraquezas e buscar ajuda, saber estruturar o que está desestruturado e ter uma alto padrão ético. Por esta razão todas estas qualidades são exaustivamente trabalhadas quando o aluno passa por um de nossos programas, que possuem uma média de noventa sessões, entre casos e conferências, sendo a grande maioria formada por casos reais que ocorreram em alguma empresa.
Acreditamos que o método do caso é o método por excelência para formar líderes com visão de direção geral, que é exatamente o objetivo dos nossos cursos. Atuando no Brasil há mais de 10 anos em parceria com o IESE Business School, o ISE Business School, escola onde atualmente atuo, tem como objetivo melhorar a qualidade da gestão no Brasil e sabemos que este objetivo passa por ajudar os executivos, no fundo, a serem também melhores pessoas. Por isso nos orgulhamos de que um dos mais gratificantes comentários que frequentemente ouvimos dos nossos alunos é que eles saem dos nossos cursos não somente muito mais preparados tecnicamente, mas também transformados e dispostos a realizarem seus trabalhos de maneira diferente, levando em conta uma série de fatores humanos, um pouco esquecidos atualmente, mas que são essenciais para uma tarefa que é essencialmente humana: a direção de uma empresa.